silênciospalavras

a sedução das palavras...e o descobrir do silêncio

Tuesday, February 14, 2006

A mim


Mais um dia...
Viro as folhas da minha vida sem perceber o certo e o errado. Eu ando sempre à procura...de mim, de ti, de um nós.
As primeiras palavras são como os sentimentos…sempre doces demais. São só palavras porque ainda não percebemos muito bem o sentimento que as origina. Têm um véu de encantamento, de loucura terna, de simples procura por alguém.
No entanto, quando entramos numa dança em que não sabemos os passos, deixamos que alguém nos conduza. Esquecer que só nós podemos guiar a nossa vida, pode ser fatal para tudo o que somos. É a descobrir os passos certos porque demos os errados que aprendemos a dançar, seja qual for a música, mesmo que olhemos para o lado e estivermos sozinhos na pista. Hoje vale a pena continuar, ainda que no ontem só existisse solidão.
São muitas as vezes que apetece desistir, que apetece gritar ao mundo que pare porque nós não aguentamos caminhar mais. Segundos em que apetece rasgar todos os livros do mundo, apetece rir descontroladamente, apetece enlouquecer de dor.
Gera-se dentro de nós uma batalha silenciosa que rapidamente acorda uma fúria que impede de ver. Ninguém ganha, ninguém sai vencedor mas só perde quem quer.
As perguntas vão tomando parte da minha vida e tantas vezes foram reduzidas somente a uma: será que vale a pena?
No entanto os segundos sucedem-se e por vezes presenteiam-nos outra vez com uma das coisas mais precisas da vida: a amizade. E a resposta aparece, radiosa como se nunca tivesse saído de nós.
Quantos eles já tive na minha vida? Quantos nós já procurei? Quantas de mim já ficaram numa qualquer tempestade?
Esta é a carta a mim mesma, aquela que está escrita em mim e em mais lado nenhum, porque a escondo do tempo com medo que ele a amarfanhe nele.
A carta que escrevo a ti, porque tu és aquela parte de mim que vive, morre e renasce.
Eu sou a que vê a luz que tu não enxergas, eu sou a que a segue e a que a faz sua, para depois ela se apagar e eu me perder no teu escuro. Eu sou a que me apaixono como se não houvesse amanhã e tu és a que me lembra que existe sempre um amanhã e que ele só depende de mim. Tu és a colher que escavaca a chávena, a memória que vive como acido em mim.
Quantas vezes tombamos juntas? Quantas vezes te convenci que “ele” era o tal?
Será que existe mesmo alguém para cada um de nós? Que fomos feitos num só corpo e depois divididos e por isso mesmo passamos a vida à procura da nossa outra metade? Será que quando encontrar-mos essa outra metade vamos reconhece-lo e ficar num só até ao resto da vida? Será que o amor incondicional e eterno existe?
Se a vida é assim onde ponho os que passaram por mim?
Se tudo funciona assim, onde estás tu minha parte de mim? Talvez te tenha já perdido porque eu sempre fui muito boa a perder coisas e amores. Talvez passes todos os dias por mim enquanto eu ando a matar sentimentos pela rua e eu nunca te tenha visto passar. Talvez sejas quem sempre esteve aqui, ao meu lado e eu nunca me tenha atrevido a tentar viver a historia do “era uma vez” contigo. Ou então nada disto existe e é só uma invenção dos que querem justificar uma relação ou então é última esperança dos solitários.
Eu tenho que ser mais do que metade de outro alguém, eu sou uma e talvez um dia apareça o que não quer ser a outra metade.
Eu sei que queres repousar, que queres tomar conta de mim, que me imploras para eu não trazer mais ninguém para casa para amarmos. Eu sei que estás cansada, mas de que vale parar no tempo, se o tempo não pára em nós?
Perguntas, sempre perguntas. Nunca as respostas.
Eu vivo nas perguntas e sou incapaz de viver das respostas, por isso vou esgravatando o ar para um dia me encontrar por baixo dele e perceber tudo o que sou. Nunca é tarde ou cedo demais, tudo tem o tempo certo, aquele em que acontece.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home